Partidarismo Evangélico

Publicado em 17/03/2017 às 09:00 Por Ricardo Macieira Visto por 535

"Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? Pois, quem é Paulo, e quem é Apolo, senão ministros pelos quais crestes, e conforme o que o Senhor deu a cada um?" (1 Coríntios 3:4-5)

É muito interessante e digno de acurada observância, notar que a tendência geral que o ser humano tem de tomar partido em praticamente todas as questões, miseravelmente se estenda também à seara evangélica. Talvez isto se deva à fragilidade das convicções pessoais do indivíduo, a partir de alguma possível limitação de entendimento ou simplesmente às paixões tendenciosas da natureza caída que ainda influenciam o senso crítico das coisas... não há como sondarmos com exatidão.

A verdade é que o apóstolo Paulo considerou como inadequada e até mesmo carnal essa inglória tendência de focar em homens ao invés de somente em Deus e no conhecimento revelado nas Sagradas Escrituras. Notem que mesmo sendo apóstolo e tendo ele recebido revelações diretamente do Senhor Jesus, este homem se colocou no mesmo patamar de outros que não foram agraciados com tal revelação direta da parte de Deus.

Estejamos sempre cientes de que todos os homens, mesmo aqueles excepcionais servos de Deus do passado e do presente, são passíveis de falhas e até mesmo de erros grosseiros como a própria história tem comprovado. Portanto é imperativo e prudente que todos os seus escritos e falas sejam 'bereanamente' analisados e cuidadosamente submetidos ao crivo ratificador da Palavra de Deus.

Alguns dos mais notáveis expositores bíblicos podem falhar, mesmo quando não cometem falhas explícitas, mas também quando se aventuram a ir temerariamente além do sentido primário do que está registrado nas Escrituras, especulando sobre algum determinado tema de difícil compreensão e forçando a interpretação do texto para que caiba dentro da sua limitada e falível lógica humana. Assim eles acabam por induzir a outros menos prudentes a defenderem isso de forma soberba e agressivamente militante; fazendo da conjectura algo mais que uma teoria e pressupondo com arrogância ser algo certo e definitivo; até mesmo taxando seus desafetos de indignos de consideração, misericórdia e respeito. Algumas das maiores heresias da história da igreja surgiram de atitudes como essa.

Portanto, se o próprio apóstolo classificou como carnal a atitude de considerar até a ele mesmo em exagerada estima, quanto mais cautela devemos ter em relação a outros que vieram depois dele. Por isso tu também não digas - Eu sou de Calvino ou de Armínio, ou sigo os puritanos ou estes ou aqueles... - mas 'examina todas as coisas e RETÉM o que é bom', pois é possível caminhar dignamente na luz que se tem, mas tu serás cobrado se tiveres depositado irrestrita confiança em homens falhos como tu mesmo o é.

"Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento. De modo que, nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento." (1 Coríntios, 3:6-7)

Fonte: Ricardo Macieira