Será Que Jesus Realmente Mandou Que Usássemos Armas?

Publicado em 21/10/2018 às 08:53 Por Ricardo Macieira Visto por 560

"Disse-lhes pois(Jesus): Mas agora, quem tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e quem não tiver espada, venda o seu manto e COMPRE UMA."(Lucas, 22:36)

Um dos temas mais controversos nos dias de hoje é aquele que diz respeito à legítima defesa e a possibilidade da utilização de armas letais pelo cristão(enquanto cidadão). Não é nossa pretensão aqui apresentar um estudo exaustivo e completo sobre o tema de forma que abranja todas as circunstâncias possíveis e até os casos extremos em que seria, não só conveniente mas também imperativo, o emprego de uma reação extrema que levasse à morte, por exemplo, de um agressor violento que ameaçasse a vida dos seus entes queridos. Também não questionamos de forma alguma aquela autoridade dada por Deus ao Estado de legalmente aplicar a pena capital máxima afim de eliminar mal feitores cruéis do seio da sociedade conforme Romanos capítulo treze verso quatro. A intenção desse texto é tão somente mostrar, na medida da nossa limitada capacidade, que toda a contextualização e gama de exemplos que temos no Novo Testamento vão frontalmente de encontro a qualquer pretensão de quem afirme que Jesus teria 'Ordenado' o uso de armas por parte dos cristãos, além de tentar expor as implicações circunstanciais em que aquelas palavras de Jesus foram proferidas.

Muitos tem argumentado, até com rasoável lógica gramatical escriturística, que nesse texto Jesus estaria 'ORDENANDO' aos seus discípulos que os mesmos deviam dali em diante se munir de armas afim de se protegerem de agressões. A base argumentativa mais plausível para isso está na palavra grega original que é empegada no verso, Hikanon(κανόν); que realmente tem uma sentido de plenitude, completude, 'suficiência'; como se o texto expressasse não um 'BASTA!', no sentido de 'CHEGA!', mas uma expressão concordante como: 'ESTÁ BOM ASSIM!' ou 'ÓTIMO, É SUFICIENTE!'. Segundo está linha de raciocínio a exegese do texto é dirigida apenas com base gramatical, e sem levar em conta outras variáveis de natureza até mais importante afim de elucidar o texto. As Escrituras não devem ser interpretadas tão somente levando-se em conta a gramática mas também o macro contexto em que a expressão está inserida, e principalmente a orientação doutrinária geral das Escrituras(nesse caso, a NOVA ALIANÇA), segundo o principal conceito hermenêutico de que o melhor intérprete da Escritura é Ela mesma. É fato notório que ao longo de todo o ministério terreno de Jesus, e também após a Sua morte e ressurreição, o povo de Deus sempre entendeu e praticou o princípio da 'NÃO RESISTÊNCIA' como claro ensino para a Igreja, e nenhum e nós poderá contradizer o fato de que os primeiros cristãos foram duramente perseguidos e agredidos até o grau máximo de excruciantes torturas e martírio, no entanto o que temos de relatos, tanto bíblicos quanto históricos é que eles simplesmente não reagiam quando maltratados, eles simplesmente seguiam o exemplo de seu Mestre que não revidava quando era atacado.

"...sendo injuriado(Cristo), não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas ENTREGAVA-SE àquEle que julga justamente.."(1 Pedro, 2:23)

Tanto é verdade que os cristãos primitivos entenderam esse princípio que é justamente isso que testemunhamos nas páginas do Livro de Atos dos Apóstolos, não percebemos qualquer relato de cristãos se armando para se defenderem das agressões, e o máximo que eles faziam era fugir.. É justamente através do que está registrado ali que temos um Padrão bíblico de como o povo de Deus deve se portar num mundo violento e hostil. O poder da mansidão e da não reação individuais é fato comprovado em inúmeros relatos da História, sendo um maravilhoso testemunho cristão. Mas o que então Jesus quis dizer quando ordenou aos discípulos que adquirissem espadas? A resposta está claramente revelada no contexto posterior, quando, no deserolar dos fatos, Pedro temerariamente lança mão da sua espada e fere o servo do sumo sacerdote(Lucas 22:49-51). Pedro demonstrou claramente que não havia compreendido que Jesus apenas os exortara, de forma metafórica(como costumava fazer) que eles dali em diante deveriam se 'PREPARAR PARA O PIOR', e não necessariamente interpretando as suas palavras ao pé da letra. Tanto é verdade que os discípulos frequentemente interpretavam mal as palavras de Jesus, que justamente por isso Ele ordenou que parassem imediatamente com aquela reação(Lucas 22:51). Quanto à palavra grega 'Hikanon', é verdade que ela tem um sentido se suficiência, mas que usada no final de uma seção(ver início do verso seguinte: "Então saiu...") demonstra claramente que a ideia de completude que a palavra em questão ali expressa, está muito além de um sentido de mera 'suficiência concordante', mas de um tipo de suficiência que expressa um forte 'BASTA!' Ou seja, Assunto encerrado! Não falemos mais disso! 

"Então Jesus lhe disse: Mete a tua espada no seu lugar; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão."(Mateus, 26:52)

Novamente reitero que não é nossa intenção contradizer o papel do Estado na execução da justiça penal contra os malfeitores e nem muito menos elucidar definitivamente o assunto da conveniência ou não do uso da força em circunstâncias extremas e específicas dentro de um contexto democrático de direito, mas que toda a contextualização Neo Testamentária e a história da Igreja primitiva apontam para o outro caminho, o caminho da mansidão, da pacificação e do 'descansar' na mercê da Soberania e direcionamento de Deus sobre a vida de todos os Seus filhos, guardando-os e protegendo-os de todo o 'MAL', sabendo que aconteça o que acontecer, Deus está no controle e nem mesmo a morte poderá nos separar do grande, imensurável e incondicional Amor de Deus. Portanto não deixemos que as pressões e ansiedades dos dias maus venham a nos afastar do direcionamento Padrão da Vontade de Deus para o Seu povo, que é a manifestação pública da Paz, da serenidade, da mansidão e do espírito conciliador que caracterizam as verdadeiras ovelhas de Cristo! Amém!

"Ele(Cristo) foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim Ele não abriu a boca."(Isaías, 53:7)

"Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos 'EXEMPLO', para que sigais as suas pisadas."(1 Pedro, 2:21)

Fonte: Ricardo Macieira